segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Pela primeira vez na Europa



Era a minha primeira vez na Europa: 3 países, 7 cidades e a vontade de levar um livro para cada canto que eu fosse. Mas não dava. Levei só dois pockets que eu tinha em inglês: 1984 e Long Walk for Freedom. O problema maior nessas missões de largar um livro em viagens é saber onde deixá-los e qual a melhor hora de carregar o livro na mochila que já está quase sempre pesada.

Depois de passar por Colônia, minha segunda cidade era Düsseldorf, onde eu passaria menos de 24 horas. Chegamos pouco antes do almoço e resolvemos sair para conhecer a cidade, já que o tempo era curto. A ideia nem era levar a mochila, mas eu teria tanto trabalho em procurar uma bolsa na mala que só tirei o que não era necessário de dentro dela e saí. Por sorte, resolvi deixar o 1984 lá.

Enquanto a nossa anfitriã alemã mostrava a cidade para mim e para uma amiga, me distraí com as histórias e o charme dos cantinhos de Düsseldorf, até esqueci da minha missão. Horas depois comentei com as meninas sobre minha encomenda secreta e pedi para me ajudarem a achar um bom lugar.

Foi então que a Vanesa, a alemã, me contou que em uma praça da cidade, perto de onde estávamos, havia alguns armários nos quais podíamos deixar um livro e pegar outro. Isso... assim... no meio da rua para quem quisesse. Coisa de alemão (nem só de alemão, aqui em Brasília  também tem).

Estava prestes a chover e eu não queria deixar meu livro a céu aberto. Então resolvi fazer diferente e participar desse projeto alemão, mas sem abandonar a ideia do Eu Achei o Livro de colocar sempre um bilhetinho na capa. Chegamos na praça, coloquei o 1984 no armário e peguei um livro infantil em alemão para trazer de presente para um amigo.

Confesso que, apesar de não ter tido a mesma emoção de deixar o livro em algum lugar no meio da rua para ser encontrado, achei uma delícia poder participar de um projeto estrangeiro com a mesma ideia de disseminar a leitura.

O armário e eu, bem natural.

O livro que veio comigo.



terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Em jardins alemães




Já era o décimo quarto dia de viagem e eu tinha dois problemas: faltavam pernas e coluna para andar por Berlim e eu precisava tirar peso da mala, a Ryan Air só permitia 20 kg. Ou seja, minha ideia de deixar um livro na Alemanha e outro em Londres já era. Um havia ficado em Düsseldorf (mas esse eu só vou contar depois) e o outro ficaria ali em Berlim mesmo.

Decidi tirar um dia sabático, se é que isso existe. Meus pés não aguentavam mais cinco passos seguidos e minha lombar gritava de tanto carregar mochila. Larguei a máquina fotográfica em casa para aliviar o peso, peguei a canga, o iPhone, o livro que ia deixar, o livro que ia ler, coloquei na mochila (agora mais leve) e fui em direção ao Tiergarten. Antes, um pit stop no Starbucks para comprar água e uns lanchinhos.

Era oficialmente o primeiro livro que eu largava no exterior (o outro não contou muito) e não era um livro qualquer, tratava-se da autobiografia do Mandela, Long Walk to Freedom. Estava segurando minha ansiedade pra não largar ali, no primeiro pedaço de grama do jardim, ou no primeiro banquinho que eu passasse. Aguentei.

O Tiergarten é um jardim imenso, desses antigos jardins de castelos europeus. A gente anda, anda, anda e nunca acaba. E eu achando que ia descansar. Até que achei um cantinho sossegado pra estender minha canga e, no melhor estilo europeu, deitar pra ler meu livro, escutar música ou pensar na vida. Resultado, o cansaço era tanto que vinte minutos depois caí no sono. Acordei meia hora depois com aquele pensamento brasileiro: - Ai, meu Deus, será que todas as minhas coisas estão aqui? Não me roubaram? Mas, claro, estava tudo ali, inclusive o Mandela.

Li mais um pouco e resolvi procurar o lugar especial onde eu deixaria as palavras de Madiba. O mais incrível nesses jardins é que todo lugar parece especial. O laguinho onde você vê um casal de idosos de mãos dadas namorando no banquinho; o gramado onde um monte de crianças brincam; o cercadinho onde os donos deixam os cachorros correrem; as esculturas escondidas no meio das árvores; entre outros encantos que a gente só vê em filmes, mas está sempre tão distante da nossa realidade.

Foi então que passei numa alameda cheia de banquinhos. Alguns adolescentes conversavam em um, um ou dois casais namoravam em outros, um senhor lia em outro. Encontrei um banco mais distante e sentei. Coloquei o livro atrás de mim e disfarcei lendo mais duas ou três páginas do meu. Levantei com aquela mesma adrenalina e sensação de quem faz algo proibido que já relatei nas primeiras vezes e minha vontade era de sair correndo. Olhei para os lados e vi que ninguém tinha reparado nas minhas atividades clandestinas. Tive tempo, ao menos, de fazer um registro do crime e mostrar para vocês. E ali deixei Madiba.

Um dos lagos do jardim

Escultura em homenagem a música clássica

Casal namorando <3